Após a Federação Internacional de Natação (FINA) anunciar a exclusão de mulheres trans do esporte de alto rendimento, a Fifa e outras entidades esportivas anunciaram que também está revisando as suas próprias regulações referentes a atletas trans.
Aqueles que advogam por essa medida alegam, com outras palavras, que o objetivo é proteger o esporte feminino e o princípio de “justiça” nas competições. Segundo essas pessoas, a ideia é eliminar vantagens injustas que pessoas trans (mulheres ou não) possam ter sobre mulheres cis.
No entanto, por que, de repente, mulheres trans se tornaram a maior ameaça ao esporte feminino? Elas realmente vão tomar conta do mundo esportivo? Mulheres cis, indefesas, ficarão sem ter onde jogar? Quem poderá nos salvar?
Mulheres foram excluídas de vários esportes por décadas no Brasil e em vários outros países. O esporte feminino, ou de mulheres, ainda sofre com falta de estrutura e apoio em várias instâncias. No entanto, ao invés de se questionar e melhorar o esporte mundial como um todo, o alvo é colocado em uma categoria marginalizada e que não tem poder de decisão dentro das instituições esportivas.
Ano passado, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou novas diretrizes que deixam a decisão de incluir ou não pessoas trans no esporte a cargo das entidades esportivas. Na decisão, o Comitê afirma que “até que haja evidências contrárias, não se deve considerar que atletas têm uma vantagem competitiva injusta ou desproporcional devido às suas variações sexuais, aparência física e/ou status transgênero.”
A Fifa, até as novas regulações serem anunciadas, promete que vai analisar a situação caso a caso e reitera que tem um compromisso de respeito aos direitos humanos. No entanto, qual a urgência em se definir se pessoas trans podem ou não competir?
Quantas mulheres trans ocupam as diretorias dos clubes de futebol no Brasil? Quantas estão na CBF comandando o futebol feminino? Quantas jogam nos clubes das séries A1, A2 ou A3?
O debate sobre a participação de pessoas trans no futebol é importantíssimo. Pessoas trans são excluídas e muitas vezes correm perigo nestes ambientes. Pessoas LGBTQIAP+ há anos lutam pelo direito de torcer, de competir, de ter acesso a todas as vantagens da prática, mesmo que amadora.
O futebol feminino tem décadas e décadas de luta pela igualdade e pelo respeito. Inclusive, a modalidade se tornou representativa para mulheres lésbicas e bissexuais, que se veem retratadas e acolhidas dentro de campo, apesar de todos os problemas encontrados fora dele.
Pessoas trans não são uma ameaça ao esporte feminino. Pelo contrário. Passou da hora de o esporte, como ferramenta de inclusão social, se tornar também uma ferramenta na luta de pessoas transgênero pela sobrevivência e pelo respeito. E, no esporte de alto rendimento, antes de pensar em que mulheres podem ou não competir, talvez seja a hora de pensar em que mulheres participam dessas decisões.
Fonte: Terra